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sábado, 25 de junho de 2011

Campo Minado

Um cidadão está andando calmamente, sem se preocupar muito com os passos, quando, de repente, é arremessado a alguns metros de altura, com um barulho ensurdecedor e uma sensação de total incompreensão com o que está se passando.

Poderia ser uma cena de guerra real ou de um filme, mas não. É uma cena que está virando quase cotidiana no Rio de Janeiro. Onde bueiros têm explodido com uma frequência que para um leigo em matéria de bueiros parece bastante desmedida.

Em 2007, quatro pessoas foram feridas durante uma explosão; Em 2010, um casal americano foi isolado por uma tampa de bueiro - testemunhas disseram à época que a mulher foi arremessada a cerca de oito metros de distância.  Já em 2011, no dia 1º de abril, foram cinco vítimas; no dia 1º de junho não houve feridos, apenas labaredas de seis metros de altura; no dia 19 de junho, mais um ferido; e hoje mais dois bueiros explodiram, porém dessa vez sem vítimas.

No final de maio, o presidente da Light disse que ainda havia 130 bueiros na Zona Norte e na Zona Sul com risco de explosão. Mas, apesar do pedido de desculpas, as tampas continuaram voando.

Se o Rio já ostentava o estigma de cidade em guerra pelos tiroteios, agora conseguiu um adendo para o estereótipo: o campo está minado.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Os Zoutros

Se o Edmundo está recuperado ou não e se já pagou as "devidas" fianças não é o ponto principal da questão a meu ver.

O que me impressiona no caso é o que representa a justiça brasileira para os comuns e o que representa para as pessoas que têm algum destaque, seja financeiro ou midiático - normalmente o financeiro vem a reboque, seja como causa ou como consequência da exposição.

Nem me atenho aos casos de corrupção, porque esses são mais complexos e  menos táteis - apesar de não menos graves -, prefiro ficar com os crimes mais "rasos", como homicídio, por exemplo.

O jornalista Pimenta Neves, que assassinou a ex-namorada e confessou o crime, demorou onze anos para ser preso. Já Edmundo, culpado por homicídio culposo de três pessoas e por ferir mais três, foi condenado a quatro anos e meio de prisão em regime semi-aberto - que permite sair durante o dia desde que seja para trabalhar ou fazer algum curso profissionalizante.

Não sou grande partidário do regime prisional, muito menos do brasileiro, mas a discrepância entre quem tem sobrenome ou conta diferenciada em banco para quem não tem nenhum dos dois é absurda no nosso país.

A prisão é para os pobres e zés-ninguém... os Zoutros de que tanto se fala. Aos ricos e famosos cabe no máximo, digamos, uma advertência e uma conversa séria num canto.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Vandalismo moral

O discurso de alguns pode ser um perigo se não forem ouvidos os sussurros por trás dos gritos...

É o caso do governador do Rio de Janeiro, o senhor Sérgio Cabral, que, em meio a sua usual fala coloquial, perdeu um pouco a noção do que dizia.

Bombeiros presos em Niterói
Enquanto 439 bombeiros estão presos por pedirem melhores salários, nosso governador os chama de "vândalos". 

Segundo o grupo SOS Bombeiros, o piso salarial da classe é de R$1.031,38, enquanto o governo diz que o salário médio está em R$1.532,88, mas não menciona o piso atual. 

O grupo que apóia a causa dos manifestantes divulgou ainda uma lista de salários dos bombeiros de todo país, em que o Rio de Janeiro ocupa a última posição. Em primeiro está Brasília, com salários de R$4.129.

A reivindicação dos que protestam é um piso de R$2 mil, mais auxílio/vale transporte, além da libertação dos 439 presos, que agora passou a ser o principal motivo da luta.

Num estado litorâneo, com alta densidade demográfica, promessa de eventos mundiais como Copa do Mundo e Olimpíadas nos próximos anos, além de uma indústria petroleira que já paga muitos royalties ao governo e promete ainda mais com o pré-sal, é justo prender bombeiros que pedem um piso salarial de R$2 mil? 

Um estado que paga cerca de R$20 mil aos seus deputados, tem o direito de prender homens que arriscam suas vidas diariamente e pedem R$2 mil em troca? 

Um governador que ganha R$17.200 (e teve reajuste em dezembro do ano passado, de R$13.400 para R$17.200), sem contar benefícios, tem o direito de chamar de "vândalos" e prender os homens que apagam incêndios e zelam pela saúde do povo carioca por pedirem dois mil reais?

O vandalismo moral é uma das consequências dos discursos repletos de sussurros dissimulados, e pode ser ainda pior do que o vandalismo material  em alguns casos.

No fim das contas fica a dúvida... quem é o verdadeiro vândalo nessa história?