Pais, alunos e professores foram às ruas da Urca reclamar melhores condições e reafirmar a posição contra o fechamento do IBC e do INES
Daniel Fraiha
Crianças, jovens e adultos se espremiam entre a rua e o muro em frente aos portões do Instituo Benjamin Constant (IBC), na manhã de segunda-feira, dia 30. A lguns seguravam bengalas, outros, cartazes. Com dizeres como “a inclusão é uma bela teoria” e “matricular não é incluir”, algumas mães de alunos revezavam o espaço da rua com os carros, alternando-se de acordo com a luz indicada no sinal. Vermelho eram frases estendidas, verde era uma calçada insuficiente.
A segunda manifestação feita por pais, alunos e professores do IBC já não contava com tanta gente como a do dia 11 de abril, que juntou cerca de 300 pessoas em frente ao prédio do Instituto. Agora eram cerca de 90 os manifestantes. E, se antes o argumento contra o fechamento da escola tinha mais força, agora vinha esvaziado pelo fato de o ministério da educação ter voltado atrás na decisão de fechar o IBC e o INES, dando a opção de dupla matrícula com o colégio Pedro II. Algumas pessoas que reclamavam não tinham conhecimento exatamente do que o protesto buscava, mas o medo de que a escola para deficientes visuais pudesse fechar falava mais alto.
- Se fecharem isso aqui, minhas filhas não vão mais poder estudar. Eu não sei o que vou fazer... acho que elas vão ter que ficar em casa. – disse Vera Lucia dos Santos, que tem duas filhas matriculadas no Instituto, uma de 11 e outra de 13 anos, que estudaram desde bebês ali.
A direção da escola não se posicionou em relação à manifestação, mas disse que não concordava com a iniciativa anterior do governo de levar pessoas com necessidades especiais para a rede pública municipal.
- Do jeito que está não pode acontecer. A educação municipal já está ruim pra todo mundo, imagina colocar 300 cegos e 500 surdos lá... – disse a assessora da direção, Elcy Mendes, que mostrou porque o medo dos pais não é tão infundado, mesmo sabendo que o governo voltou atrás – Pra esse ano não tem perigo, mas volta e meia eles falam em fechar a escola do IBC.
Os professores, que também se alternavam no megafone, reclamavam da falta de reajuste da verba do Instituto, além da falta de concurso para professores:
- Só de não aumentarem a verba, já estão abaixando, né. E já está começando a faltar professor, o último concurso para professor fixo foi há dois anos, e para temporário há um. Os professores morrem, se aposentam, saem, e ninguém entra pra substituir. – reclamou o professor Vitor Marques, que dá aulas no Instituto há 26 anos.
Outra reclamação era a de que o Pedro II não estaria pronto para receber este contingente de alunos, nem em termos de espaço, nem de capacitação.
- O Pedro II já recebe os nossos alunos no ensino médio, porque a escola só vai até o 9° ano, mas ele não tem preparação para lidar com o ensino fundamental daqui, e muito menos tem espaço para mais 800 alunos. – disse Darcy Siqueira, presidente da APAR, Associação de Pais, Alunos e Reabilitandos.
Um panfleto que era distribuído no local trazia o ensino médio como uma das reivindicações da Associação, que também pedia novos concursos públicos em todos os níveis para preencher as vagas do Instituto, e a conclusão da entrega de notebooks para os alunos cegos do 8° e do 9° ano, como havia sido prometido pelo governo.
Enquanto os gritos se revezavam e os cartazes eram estendidos, a Urca demorava a perceber o movimento, que não chegou a fechar o trânsito, como os organizadores pretendiam. Mesmo com a comunicação à Cet-Rio, que fora convidada à fechar aquele trecho em solidariedade ao protesto, só havia uma viatura da polícia, onde quatro policiais batiam papo encostados, e um guarda municipal apitava solitário para o trânsito que não sofria muitas conseqüências.
- Ninguém me falou nada, eu estava passando e vi esse amontoado de gente, aí resolvi ver o que era. – disse Rudy Sátiro, que vestia o colete da Guarda Municipal e figurava no trânsito que não pedia orquestração para seguir.
No meio disso tudo, o Pampa L 1.8, que servia como carro de som na calçada, trazia uma frase de pára-choque desconectada do ambiente, com os dizeres “calma, ganho a vida assim”, logo abaixo de um cartaz de protesto, onde estava escrito “IBC não pode fechar”. Ambas as frases servindo de pano de fundo para a voz estridente que saia das caixas de som, fazendo uma pergunta que não ouviu resposta: “vamos sucatear primeiro para depois fechar?!”.
*Fotos: Ian Gastim