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terça-feira, 31 de maio de 2011

Manifestação pede mais atenção ao Instituto Benjamin Contant

Pais, alunos e professores foram às ruas da Urca reclamar melhores condições e reafirmar a posição contra o fechamento do IBC e do INES


Daniel Fraiha

Crianças, jovens e adultos se espremiam entre a rua e o muro em frente aos portões do Instituo Benjamin Constant (IBC), na manhã de segunda-feira, dia 30. Alguns seguravam bengalas, outros, cartazes. Com dizeres como “a inclusão é uma bela teoria” e “matricular não é incluir”, algumas mães de alunos revezavam o espaço da rua com os carros, alternando-se de acordo com a luz indicada no sinal. Vermelho eram frases estendidas, verde era uma calçada insuficiente.
      A segunda manifestação feita por pais, alunos e professores do IBC já não contava com tanta gente como a do dia 11 de abril, que juntou cerca de 300 pessoas em frente ao prédio do Instituto. Agora eram cerca de 90 os manifestantes. E, se antes o argumento contra o fechamento da escola tinha mais força, agora vinha esvaziado pelo fato de o ministério da educação ter voltado atrás na decisão de fechar o IBC e o INES, dando a opção de dupla matrícula com o colégio Pedro II. Algumas pessoas que reclamavam não tinham conhecimento exatamente do que o protesto buscava, mas o medo de que a escola para deficientes visuais pudesse fechar falava mais alto.
         - Se fecharem isso aqui, minhas filhas não vão mais poder estudar. Eu não sei o que vou fazer... acho que elas vão ter que ficar em casa. – disse Vera Lucia dos Santos, que tem duas filhas matriculadas no Instituto, uma de 11 e outra de 13 anos, que estudaram desde bebês ali.
         A direção da escola não se posicionou em relação à manifestação, mas disse que não concordava com a iniciativa anterior do governo de levar pessoas com necessidades especiais para a rede pública municipal.
         - Do jeito que está não pode acontecer. A educação municipal já está ruim pra todo mundo, imagina colocar 300 cegos e 500 surdos lá... – disse a assessora da direção, Elcy Mendes, que mostrou porque o medo dos pais não é tão infundado, mesmo sabendo que o governo voltou atrás – Pra esse ano não tem perigo, mas volta e meia eles falam em fechar a escola do IBC.
         Os professores, que também se alternavam no megafone, reclamavam da falta de reajuste da verba do Instituto, além da falta de concurso para professores:
        - Só de não aumentarem a verba, já estão abaixando, né. E já está começando a faltar professor, o último concurso para professor fixo foi há dois anos, e para temporário há um. Os professores morrem, se aposentam, saem, e ninguém entra pra substituir. – reclamou o professor Vitor Marques, que dá aulas no Instituto há 26 anos.
Outra reclamação era a de que o Pedro II não estaria pronto para receber este contingente de alunos, nem em termos de espaço, nem de capacitação.
        - O Pedro II já recebe os nossos alunos no ensino médio, porque a escola só vai até o 9° ano, mas ele não tem preparação para lidar com o ensino fundamental daqui, e muito menos tem espaço para mais 800 alunos. – disse Darcy Siqueira, presidente da APAR, Associação de Pais, Alunos e Reabilitandos.
       Um panfleto que era distribuído no local trazia o ensino médio como uma das reivindicações da Associação, que também pedia novos concursos públicos em todos os níveis para preencher as vagas do Instituto, e a conclusão da entrega de notebooks para os alunos cegos do 8° e do 9° ano, como havia sido prometido pelo governo.
        Enquanto os gritos se revezavam e os cartazes eram estendidos, a Urca demorava a perceber o movimento, que não chegou a fechar o trânsito, como os organizadores pretendiam. Mesmo com a comunicação à Cet-Rio, que fora convidada à fechar aquele trecho em solidariedade ao protesto, só havia uma viatura da polícia, onde quatro policiais batiam papo encostados, e um guarda municipal apitava solitário para o trânsito que não sofria muitas conseqüências.
     - Ninguém me falou nada, eu estava passando e vi esse amontoado de gente, aí resolvi ver o que era. – disse Rudy Sátiro, que vestia o colete da Guarda Municipal e figurava no trânsito que não pedia orquestração para seguir.
No meio disso tudo, o Pampa L 1.8, que servia como carro de som na calçada, trazia uma frase de pára-choque desconectada do ambiente, com os dizeres “calma, ganho a vida assim”, logo abaixo de um cartaz de protesto, onde estava escrito “IBC não pode fechar”. Ambas as frases servindo de pano de fundo para a voz estridente que saia das caixas de som, fazendo uma pergunta que não ouviu resposta: “vamos sucatear primeiro para depois fechar?!”.

*Fotos: Ian Gastim

sábado, 28 de maio de 2011

Gasolina barata pra inglês ver

As pessoas volta e meia reclamam que a mídia só dá más notícias, que não vale mais a pena ler jornal e etc. Não acho que seja verdade - apesar de concordar que às vezes se exagera - ou que seja intencional, mas essa semana os meios de comunicação cariocas pecaram no serviço à sociedade.

Quarta-feira, dia 25 de maio, foi "comemorado" o dia do contribuinte no Brasil e, em homenagem a isso, alguns postos pelo país não cobraram impostos, vendendo o litro da gasolina com mais de 50% de desconto. Só um posto no Rio aderiu ao protesto contra a enorme carga tributária, e o litro saiu a R$1,44 - era permitido comprar até 20 litros, da 11h às 14h.

Não podemos só criticar a mídia nesse caso, já que só um posto carioca promoveu o desconto, mas era um caso nítido de interesse da sociedade. Mesmo que não fosse possível atender a todos os que fossem em busca do combustível barato e até se congestionasse o trânsito, o efeito como protesto seria ainda mais forte.

Que eu saiba só o JB online e o blog de bairros do Globo noticiaram com antecedência o fato. Ou seja, dois canais de curto alcance, sendo que um faz parte do maior jornal impresso do Rio, e poderia amplificar a voz do protesto e levar o público a saber da novidade.

Mas não, quase todos optaram por noticiar só o depois... é uma pena, o cidadão que não soube fica se achando desinformado e o protesto perde a força que poderia ter. 

sábado, 21 de maio de 2011

O Surfe ficou para escanteio

É incrível a pouca atenção dada ao surfe pela mídia brasileira. O título que escolhi para este post não foi por acaso. Nem para ficar chamativo. Foi para exemplificar o que acontece nos jornais com os esportes diferentes do futebol. Ficam de lado e são tratados pelo viés futebolístico.

O Mineirinho - Adriano de Souza - foi campeão da etapa carioca do circuito mundial de surfe, o evento mais importante de todos no esporte, e ficou em primeiro no ranking total do campeonato. É a primeira vez que um brasileiro alcança essa posição no ranking do mundial.

O Globo e a Folha deram uma foto dele na capa do jornal. A Folha na parte superior esquerda e o Globo na parte inferior central. As fotos chamavam atenção e faziam supor que os jornais fariam uma edição de esportes voltada para o surfe e aprofundada na história - em paralelo com o campeonato brasileiro, claro. Uma coisa não excluiria a outra.

Mas não... o Globo se limitou a uma página inteira e a Folha à pagina dupla de seu caderno de esportes. Abordagem simplista, sem muito charme. Nem culpo o repórter, tenho lá minhas impressões que a chefia não deu espaço de propósito. Afinal de contas, para os cadernos de esporte futebol é o que há, o resto é hobby de alguns desocupados. A Folha ainda foi um pouco melhor, a matéria se aprofundava um pouquinho mais, mas também não era nada demais.

Podiam conversar com alguns surfistas que estavam no campeonato, buscar brasileiros que tem influência no meio, como Teco Padaratz, ou que se notabilizaram com ele, como Rico. Podiam contar a história de Mineirinho com detalhes, falar com pessoas ligadas à ele - e não apenas seu treinador-empresário. Podiam até relacionar valores do surfe com os do futebol, se é tão importante assim deixar a bola sempre em primeiro plano, mas não dar tão pouca atenção ao maior evento do mundo, ainda mais sendo em território nacional.

Aliás... mais que nacional, local. Especificamente no Rio de Janeiro, curral do Globo. Eu sei que o futebol tem um público muito mais amplo, mas o surfe há anos já deixou de ser esporte marginal e abarca muita gente na cidade e no país. Se a preocupação era o público-alvo, saibam que grande parte dos surfistas tem alto poder aquisitivo.

Exagerando para explicar, o Brasil seria campeão do mundo no maracanâ e o jornal daria uma página. A Folha ainda dividiu a capa de esportes, estampando a outra metade com o Ronaldinho Gaúcho, que começará o brasileirão sob desconfiança. Ahh...

Outro detalhe foi a infeliz escolha do entretítulo da matéria da Folha, "Torcida comemora 'gols' na areia", referindo-se às manobras dos surfistas, que eram motivo de gritaria fora d'água. Que obsesssão chata, acham que todo  esporte tem que ser comparado ao futebol para as pessoas entenderem.

Se é para comparar com outros esportes, quando o Guga foi o número um do mundo, o espaço dado foi muito maior. O surfe é menos popular que o tênis no Brasil? No Rio?!!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O Rio Grande do Norte é aqui

Pra quem acha que está longe, está aí uma matéria feita pelo Uol, ano passado, que mostra que a situação da educação do Rio não está muito diferente do que a professora Amanda Gurgel apontou no Rio Grande do Norte.

No primeiro semestre de 2010 teriam sido o equivalente a quatro professores deixando o cargo na rede estadual carioca por dia, num total de 681 professores saindo de janeiro a junho. Na maioria por conta dos salários baixos, que seriam inicialmente de R$765 e poderiam chegar a um salário máximo de R$1.511,27.

E os vereadores estavam pensando em comprar Jettas pra todo mundo (cerca de 69 mil reais cada carro) na câmara carioca... não fosse o movimento da mídia e de algumas pessoas indignadas, a farra teria ido em diante.

Precisamos de mais pessoas assim, como o homem que se acorrentou em frente da câmara em protesto à compra de carros ou como a professora Amanda Gurgel que peitou a bancada engomada do Rio Grande do Norte. No Rio fez efeito, espero que a professora também tenha alguma reposta efetiva ao pedido. E que evitem os tons pastéis...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Ruins no pique-esconde

É no mínimo curioso um caso em que se procura um homem pelo mundo todo, dessa busca nasce uma guerra e no fim das contas tudo acaba em pesquisas de eleição, mas não vamos tão longe assim...

Vamos partir do princípio que o Osama acabou realmente de ser morto pelos EUA e que o Obama deu a sorte de ser num momento em que perdia força para a futura candidatura à reeleição. Puta cagada, né. Mas vamos lá, o tópico de agora é outro. 

Como um país como os Estados Unidos, com o poder e o aparato que tem à sua disposição, se despencam pro outro lado do mundo, gastam dois trilhões de dólares (incluindo o Iraque) em "segurança", começam uma guerra no Afeganistão que já dura quase dez anos e no fim das contas vão matar o sujeito no Paquistão? 

"Houston, we have a problem"...

CIA, FBI, Blackwater, SEAL - todos nomes muito bonitos e muito bem desenhados por Hollywood - sempre foram sinônimos de eficácia e de quase invencíveis. Agora saem (especialmente o SEAL) festejados a valer do episódio Obama-Osama, mas uma coisa ninguém comentou muito; o camarada foi achado em outro país. Vão me dizer agora que eram ruins no pique-esconde?


P.S.: Cartoon da Revista The New Yorker

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Kotscho na Record

A Record é sempre um tema que balança opiniões, principalmente pelo fato de pertencer à Igreja Universal de Edir Macedo. Mas têm surgido umas boas notícias na rede quando se fala de jornalismo.

Em fevereiro, o jornalista Heródoto Barbeiro - que foi apresentador do Roda Viva - assinou contrato com a emissora para ser o principal nome do novo jornal, o "Jornal da Record News". Além da apresentação do programa na TV Cultura, Heródoto já ganhou vinte prêmios de jornalismo, foi professor da USP por muitos anos e é muito respeitado no meio. 

Agora parece que um novo nome de peso vai se juntar à turma do jornal que deve surgir esse mês ainda; é o de Ricardo Kotscho, que escreveu um texto de despedida em seu blog no Portal IG semana passada, dizendo que estava indo para um projeto numa rede de televisão. Seu nome já foi confirmado como comentarista do novo jornal da Record. Kotscho é outro desses nomes muito respeitados no meio e estudado nas universidades.

Não podemos antecipar elogios, nem poupar críticas quando forem necessárias, mas ao que parece há bons ventos soprando nos bastidores da TV. Apesar do nome meio esquisito, espero que surja um novo formato para balançar o jornalismo nesse meio que anda já fechado em paradigmas antigos há algum tempo.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Tons Pastéis

O mundo tem a mania de vez ou outra dar uma retocada no que não deveria, ou no que não merece. É o grande palco que rege nossos dias de marketing e falta de bom senso.

Saiu na coluna do Ancelmo, outro dia, que antes do casamento real do príncipe Charles com a Diana, em 1981, os cavalos que levariam a carruagem tiveram uma dieta especial preparada para dar um tom pastel ao cocô, e assim ficar em harmonia com a decoração da festa.

Agora vemos no quadro político brasileiro algo que me vem logo à mente quando ouço a história rocambolesca britânica. Renan Calheiros - que já foi julgado e absolvido cinco vezes - foi apontado para a Comissão de Ética do Senado. Tiririca é titular da Comissão de Educação e Cultura da Câmara Federal. E Roberto Requião - que recentemente arrancou o gravador da mão de um jornalista - está na Comissão de Educação e Cultura do Senado. Ironias?

Não sei muito bem do que se trata, mas esse excesso de tons pastéis está tirando qualquer harmonia na decoração do Planalto. E não podemos esquecer que, seja qual for o rótulo ou a embalagem, o que importa é a essência...