Ousado foi o garoto, que encheu a cara de cachaça, meteu um
facão na cintura e, mesmo sendo pobre, mulato e iletrado – no início do século
XX -, tentou tirar satisfação com o coronel da pequena cidade de Exu, no
interior de Pernambuco. A ousadia foi digna de admiração, mas sem um plano na
cabeça acabou levando-o pra longe da própria família e da menina que amava,
por quem tinha se feito de valente. Ousados também foram os produtores do filme
“Gonzaga – de Pai pra filho”, que conta a história do bravo menino, ao fecharem
10 salas de cinema para a pré-estreia no Rio de Janeiro. Mas se um tanto foi o
que levou à solidão do garoto, o outro ato é o início de um sucesso já
anunciado, capaz de ocupar milhares de poltronas e terminar a noite com um show
memorável.
As lágrimas que escorreram no rosto de Chambinho do Acordeon
– um dos impressionantes intérpretes do Rei do Baião no filme –, quando cantava
para a plateia, foram também as dos olhos que acompanharam a história do início
ao fim sem mastigar com força a pipoca, para não perder nenhum momento
importante com o ruído dos dentes no milho.
Quem antes não conhecia muito a história do grande cantor e
compositor nordestino, ao fim do dia já era um fã ávido por conhecer ainda mais
essa trajetória emocionante e cheia de graça.
Para o privilégio dos que ficaram depois da sessão, o elenco
– liderado por Chambinho - deu um show digno de recordação. O cantor-ator
começou cantando algumas músicas de Gonzaga, e ao longo da noite, que começou logo
após o filme e acabou depois de 1h, outros atores do longa foram chegando e
subindo ao pequeno palco montado em frente à bilheteria do Cinemark Downtown,
para a alegria da rapaziada. Pro balanço do pé da moçada...
Cantaram, dançaram, choraram e conseguiram emocionar ainda
mais a todos que se espalhavam pelo saguão. O Nordeste baixou na Barra e até
Elba Ramalho surgiu do meio dos ouvintes para cantar junto com Chambinho.
Também o diretor Breno Silveira subiu ao palquinho, cantou
junto com as grandes figuras do elenco que ali estavam, e com um dos que ainda
carrega na identidade a homenagem ao grande sanfonista: Daniel Gonzaga, filho
de Gonzaguinha e neto de Gonzagão, também ele cantor e compositor.
A noite foi fechada com chave de ouro, com todos cantando juntos
o refrão “É bonita, é bonita e é bonita!”, da linda música de Gonzaguinha. A
emoção de todos ali, o abraço coletivo dos contadores dessa história, as
lágrimas emocionadas do sanfonista que interpreta o rei dos sanfonistas, e toda
a atmosfera da noite, mostraram que o filme já deu certo. De pai pra filho, de
fãs pra ídolo, do que quer que seja, deu pra ver, que, além de uma obra de
arte, foi de coração.