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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Foi bonito


Ousado foi o garoto, que encheu a cara de cachaça, meteu um facão na cintura e, mesmo sendo pobre, mulato e iletrado – no início do século XX -, tentou tirar satisfação com o coronel da pequena cidade de Exu, no interior de Pernambuco. A ousadia foi digna de admiração, mas sem um plano na cabeça acabou levando-o pra longe da própria família e da menina que amava, por quem tinha se feito de valente. Ousados também foram os produtores do filme “Gonzaga – de Pai pra filho”, que conta a história do bravo menino, ao fecharem 10 salas de cinema para a pré-estreia no Rio de Janeiro. Mas se um tanto foi o que levou à solidão do garoto, o outro ato é o início de um sucesso já anunciado, capaz de ocupar milhares de poltronas e terminar a noite com um show memorável.

As lágrimas que escorreram no rosto de Chambinho do Acordeon – um dos impressionantes intérpretes do Rei do Baião no filme –, quando cantava para a plateia, foram também as dos olhos que acompanharam a história do início ao fim sem mastigar com força a pipoca, para não perder nenhum momento importante com o ruído dos dentes no milho.

Quem antes não conhecia muito a história do grande cantor e compositor nordestino, ao fim do dia já era um fã ávido por conhecer ainda mais essa trajetória emocionante e cheia de graça.

Para o privilégio dos que ficaram depois da sessão, o elenco – liderado por Chambinho - deu um show digno de recordação. O cantor-ator começou cantando algumas músicas de Gonzaga, e ao longo da noite, que começou logo após o filme e acabou depois de 1h, outros atores do longa foram chegando e subindo ao pequeno palco montado em frente à bilheteria do Cinemark Downtown, para a alegria da rapaziada. Pro balanço do pé da moçada...

Cantaram, dançaram, choraram e conseguiram emocionar ainda mais a todos que se espalhavam pelo saguão. O Nordeste baixou na Barra e até Elba Ramalho surgiu do meio dos ouvintes para cantar junto com Chambinho.

Também o diretor Breno Silveira subiu ao palquinho, cantou junto com as grandes figuras do elenco que ali estavam, e com um dos que ainda carrega na identidade a homenagem ao grande sanfonista: Daniel Gonzaga, filho de Gonzaguinha e neto de Gonzagão, também ele cantor e compositor.

A noite foi fechada com chave de ouro, com todos cantando juntos o refrão “É bonita, é bonita e é bonita!”, da linda música de Gonzaguinha. A emoção de todos ali, o abraço coletivo dos contadores dessa história, as lágrimas emocionadas do sanfonista que interpreta o rei dos sanfonistas, e toda a atmosfera da noite, mostraram que o filme já deu certo. De pai pra filho, de fãs pra ídolo, do que quer que seja, deu pra ver, que, além de uma obra de arte, foi de coração.

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