É natural que os ânimos se exaltem quando acontece algo como a tragédia da quarta-feira passada (07/04) em Realengo, mas é preciso que se segure a onda na hora de reportar os fatos num meio de comunicação.
Ainda mais quando se trata de um jornal impresso cujo público-alvo são as classes A e B, como O Globo. O jornal de mais prestígio do Rio de Janeiro hoje, que traz nomes de peso e tem uma longa história, deveria fazer uma leitura dos sentimentos da sociedade sim, mas sem necessidade de cair num sensacionalismo barato, que não costuma ser seu padrão.
Como leitor e assinante - além de estudante de jornalismo - me senti mal e surpreso com a capa escolhida para a edição do dia seguinte (08/04) ao triste evento. "Ele atirava na cabeça" eram as palavras que figuravam bem grandes no alto da página, junto a três imagens médias, sendo a primeira de um menino correndo com sangue espalhado pelas roupas e a do meio o assassino com a cabeça ensanguentada numa escada. A reportagem que encabeçava a matéria era toda composta por uma parte da entrevista dada pela menina que aparecia junto à mãe na foto grande. Seguindo bem a linha dos "espreme que sai sangue".
Tudo foi um horror, um atentado ao bem-estar social, de fato. Não há defesa disso e nem é o que se procura. Porém a mídia tem uma força muito grande sobre a sociedade, e é muito importante que saiba dar um tom mais sóbrio quando abordar um assunto tão chocante.
A resposta dos que eu questionei sobre a capa do Globo era: "assim vende mais jornal". Nada mais verdadeiro. E sei da importância de aumentar as tiragens nesse momento de crise do papel e internet crescente. Mas onde está a ética num espaço tão poderoso como aquele, nesse momento crucial? O que está em questão ali, os números à qualquer custo, ou a preocupação com uma informação rigorosa que não desrespeite o cidadão?
Se um jornal se propõe a seguir uma linha e conquista um público com aquele discurso, mudar de rumo no meio do caminho com uma guinada é um erro tremendo. Seja por desrespeito ou por falta de zêlo.
Nem comento o triste fato de alguns apresentadores de TV que foram extremamente inconvenientes levando crianças em momento de trauma para falarem às câmeras. Mas peço mais cuidado aos jornalistas do impresso quando forem escolher suas abordagens. O Globo já tem o Extra e o Expresso para fazerem esse papel. Tem que tomar cuidado para também não sair com a cara do Meia Hora.
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