Para quem não está acostumado a ver textos muito longos e com caráter mais pessoal nas páginas dos jornais, porém gosta disso, vale dar uma olhada em uma matéria do New York Times de hoje.
É o relato de quatro jornalistas do veículo que estavam cobrindo o conflito na Líbia, quando foram capturados pelos soldados aliados de Qaddafi. O texto, em forma de narrativa, conta todos os detalhes dos dias em que passaram sendo levados de um lado para o outro do país, enquanto eram vítimas de pancadas e abusos psicológicos. Em alguns momentos é relatado o tratamento a que foi submetida a única mulher do grupo, que apesar de não ter sofrido estupro, foi extensamente tateada por soldados líbios. Um destes chegou a tentar enfiar a baioneta de um rifle no ânus de um dos jornalistas homens, ao mesmo tempo em que ria da situação do pobre homem.
É um relato triste e interessante, que mostra vários lados da guerra. Desde o front com sua faceta mais cruel, onde soldados maltratam e ameaçam jornalistas, chegando ao veredicto de que devem ser alvejados, fato que só não chega a ser concretizado porque algum soldado se preocupou com a política ("You can't. They're Americans", teria dito um dos soldados ao encarregado de atirar), até o lado diplomático, em que homens com postos mais altos da hierarquia tratam bem aos jornalistas, dizendo que tudo foi uma confusão causada pelas circunstâncias e que eles seriam enviados em segurança de volta ao seu país.
O texto ainda tem seu lado cômico, quando conta que durante os últimos quatro dias ficaram confinados em um local onde havia apenas um dicionário alemão-árabe e cinco peças de Shakespeare nas prateleiras. E que durante estes dias, dominados pelo tédio, ficaram encenando repetidamente as peças entre quatro paredes.
Seria cômico se não fosse trágico. E provavelmente deve virar roteiro de cinema a ser lançado daqui há alguns anos por Hollywood. Afinal de contas, sempre há tempo para filmes...e para Shakespeare.
E serve um pouco para compararmos a qualidade (ainda que em decadência) de um NYT quando visto em relação a nossa mídia...
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